Carioca Travelando checking in…
“Moro num país tropical… abençoado por Deus, e bonito por natureza…” Aposto que você já cantarolou essa canção com muito orgulho, verdade? Afinal o Brasil é um pais f-a-n-t-á-s-t-i-c-o. Gigante por natureza, de uma beleza exuberante e ainda por cima, com um povo carismático, acolhedor e liiiiiiiindo.
Minha primeira experiência morando fora do Brasil foi na terra dos “cowboys” na cidade de Houston, no Texas. Foi lá que as minhas “travelices” se intensificaram pra valer. Tenho um carinho imenso por essa cidade que é reconhecida internacionalmente como a capital mundial do petróleo, e que recebe tantos estrangeiros graças as oportunidades de trabalho na região.
Foi lá que eu aprimorei o meu inglês (sim, sou completamente apaixonada pelo sotaque texano – o famoso “ovo na boca”), e o mundo se abriu para mim. Foi lá que eu trabalhei na minha primeira multinacional… Houston tem um lugar especial no meu coração, afinal foram muitas as “primeiras vezes” por lá. E na linha do post de hoje, foi lá que eu sobrevivi ao meu primeiro (e espero que último), furacão. Sim, eu disse furação…
No Brasil não temos dessas coisas, né? Furacões, terremotos, maremotos… Graças ao bom Deus. Mas já na terra do Tio Sam, o buraco é mais embaixo. Lá tem a famosa temporada de furacões, época em que a ocorrência desses fenômenos naturais são mais constantes, sendo geralmente de Junho à Novembro. Logo que cheguei à Houston achei muito estranho a importância que os americanos davam a previsão do tempo. É tudo muito bem elaborado, com muitas estatísticas e os apresentadores muitas vezes são PhDs no assunto, isso pra mim era muito exagerado. O assunto é abordado nos telejornais com uma seriedade e riqueza de detalhes impressionante, coisas que não vemos nas previsões do tempo nos telejornais tupiniquins – aonde temos “a garota da previsão do tempo”. Só depois do susto, é que tudo começou a fazer mais sentido pra mim. Daí sim a “ficha caiu”. Na verdade, a ficha despencou.
Pois bem, era um verão quente como de costume em Setembro de 2008. Eu estava a pouco mais de nove meses morando no Texas. Estudava inglês full-time numa universidade em Houston, me preparando para a certificação conhecida como ESL – “English as a Second Language” (Inglês como Segundo Idioma). Foi na faculdade que escutei pela primeira vez “Ike is coming” – o Ike está chegando. Como assim? Quem tá chegando? E quem é esse tal de Ike? É aluno novo?
“Ah que isso… não é nada não.” – eu pensei. “Isso aí é coisa de americano paranóico e sensacionalista. Não vai ser nada, cês vão ver. Logo vai ficar tudo bem e não passará de uma chuvinha mais forte – eu tô acostumada com isso, sou Carioca” – logo pensei eu. Carioca Travelando: a mais nova especialista em furacões. Ah coitada, sabe de nada inocente…
Próximo ao dia do mais que anunciado “landfall” (dia que o furacão chegaria na cidade vindo do Golfo do México), eu via os supermercados abarrotados de gente. Todo mundo com cara de preocupado, comprando água, enlatados, muita comida não-perecível. De novo eu pensei com meus botões: “nossa, que povo mais exagerado”. Por via das dúvidas, eu segui o fluxo e também e comprei umas latinhas, umas coisinhas de nada. “Ah, vai que… sei lá né?”, pensei. Cada vez mais perto do “dia D”, muitos conhecidos nossos, experientes nos EUA, reservavam hotéis distante da cidade. Alguns outros aproveitaram a “desculpa” e viajaram para o Brasil. Nós e alguns poucos amigos decidimos ficar – ai meu Deus… A verdade é que não tínhamos sequer noção do que estava por vir. Houston we have a problem.
Lembro que na madrugada do landfall, vivemos literalmente cenas de filme de terror. Uma tempestade absurda, muita chuva e vento forte – chovia “cats and dogs“, como dizem os americanos. As janelas do nosso apartamento tremiam tanto, que em vários momentos acreditávamos que todas elas iriam se despedaçar e que seríamos invadidos pela ventania e chuva absurdas que caiam lá fora. Eram por volta das três da manhã, e aterrorizados, fomos procurar abrigo dentro do closet. Fechamos a porta e ficamos lá quietinhos e apavorados, impotentes naquela situação. Abraçados aos nossos edredons, só nos restava pedir a Deus para nos proteger naquela provação. Foi uma noite sinistramente inesquecível.
Conseguimos finalmente pegar no sono quando já estava quase amanhecendo. E quando acordamos por volta do meio dia, tudo estava muito calmo. Calmo até demais – sabe tipo “depois da tempestade vem a calmaria”? Descobrimos que estávamos sem luz e sem água. Ok, daqui a pouco volta, eu pensei, otimista. Afinal estávamos nos Estados Unidos, país de primeiro mundo, né? “Aqui não falta água – isso aqui não é Rio de Janeiro. Daqui a pouco tudo se restabelece.” Fomos dar uma volta pelas ruas do bairro e as cenas que encontramos foram de completa destruição. Avenidas alagadas, placas retorcidas, sinais de trânsito estilhaçados, casas sem teto e árvores arrancadas por completo do solo. Resumindo, tudo um caos. Eu nunca tinha visto nada igual.
Resumo da ópera: ficamos sete dias sem luz e sem água. S-E-T-E ! Foi tenso. Não poder ir para um hotel, não poder comer uma comida quentinha, não poder tomar um banho gente – ficar só no banho de lencinho umedecido… foi fácil não. Num país de primeiro mundo, quem poderia imaginar? Foi então que entendemos porque os americanos dão tanta importância a previsão do tempo. As pessoas estavam se preparando para algo tão grandioso, que nós não fazíamos a menor idéia da sua magnitude.
A verdade é que o pior desse furacão, não foi o durante, e sim o “pós-furacão”. O que os americanos chamam de aftermath. Não dá pra sair de carro pois as estradas estão destruídas e/ou alagadas, não tem comida nos supermercados, os estabelecimentos comerciais não abrem por falta de luz, as pessoas não trabalham e etc. A cidade pára por completo. O único lugar que funciona, graças a Deus (e aos poucos geradores), são os hospitais – com sorte.
Durante a semana que ficamos sem luz e sem água, fomos acolhidos por amigos brasileiros caridosos que nos ofereceram um teto – dividiram conosco o pouco que tinham. Eles ainda foram carinhosos o suficiente para abrigar um casal de amigos nossos (que viraram compadres depois), que eles nem sequer conheciam. E a esses amigos, a nossa gratidão é eterna (A e D, Brigaduuuuuuuuu!). Brasileiro é um povo incrível mesmo, né gente? É nessas horas que damos valor a pequenas coisas da vida, aos grandes amigos, a nossa pátria amada. O Brasil apesar dos pesares atuais, não passa por esse tipo de catástrofe. Somos abençoados por Deus e bonitos por natureza.
O Ike começou como um furacão de categoria quatro (de uma escala que vai até cinco), no Golfo do México, mas apesar de chegar em terra como categoria dois, foi considerado o terceiro furacão mais destrutivo da história dos Estados Unidos. No Texas uma das regiões mais afetadas foi Galveston, onde casas foram arrastadas e completamente engolidas pelo mar – e infelizmente, muitas vidas perdidas. Lá a situação foi punk mesmo. Cenas inusitadas como crocodilos atravessando a rua – coisa de louco. Passamos o maior perrengue em Houston, mas graças a Deus não sofremos nada grave, nenhum arranhão, nenhum dano material – só o susto. Hoje temos esse “apertos pelo mundo” pra contar.
Portanto fica a dica: previsão de furacão, ou qualquer outro desastre natural, se informa direitinho e se prepara ao máximo, seja precavido. É legal contar a história depois, mas vai por mim, você pode com toda certeza, pular essa experiência.
Carioca Travelando checking in… Safe Travels – sem furacão ;)
Fotos By Carla F. & Vidal Ferreira Photography
Jessica Lara says
Nossa Fiquei chocada, que tensão em. Tudo na vida tem seus prós e contras ,morro de vontade de ir para o exterior e sei que por mais que pensemos que tudo é as mil maravilhas não é por ai.
França says
Vixe que perrengue…, nao sabia dessa historia amiga
Carioca Travelando says
Oxeeeee amiga… Foi punk!
Milene says
Adoro as histórias.
Carioca Travelando says
Oi Mi! A gente passa por cada coisa né… tá vendo só? Beijo grande em todos :)