Olá Viajantes! Carioca Travelando checking in :)
No post anterior Da Sagrada Medina á Al-Ula, e a fascinante Rocha do Elefante, escrevi sobre nossa viagem à Al-Ula e como chegar até lá partindo do aeroporto de Medina, na Arábia Saudita e a nossa visita a curiosa Rocha do Elefante. No post de hoje continuo contando como foi a nossa aventura em Mada’in Saleh, a Estação de Trem Ottoman (Hijaz Railway) e Jantar na antiga vila árabe.
O deserto – Uma beleza super-natural:
Considerada patrimônio histórico da humanidade pela UNESCO, Mada’in Saleh foi uma grande surpresa para todos nós. Já tinha idéia de que era um lugar belíssimo, mas eu fiquei particularmente encantada com a riqueza histórica do lugar, que segue preservada mesmo depois de milhares de anos, e com pouquíssima manutenção pelo governo saudita. Em muitos aspectos, ainda se tem muito a explorar na região.
No local existem aproximadamente 131 tumbas esculpidas nas rochas, que nos lembraram demais a cidade de Petra, na Jordânia. Isso acontece pois ambas cidades (Petra e Mada’in Saleh), foram construídas pela mesma civilização – os Nabateans. A maioria das tumbas possui escrituras na parte superior, contendo detalhes como: proprietário da tumba e nomes das pessoas que teriam então, permissão para serem enterradas ali – o curioso é que brigar com um parente naquela época, podia te deixar sem-terra depois da morte. Algumas tumbas inclusive possuem data de construção, nome do construtor assim como outras datas importantes. O mais incrível disso tudo é saber que foram esculpidas nas pedras, a mão, com ferramentas bem primitivas, e apesar disso, o nível de precisão, atenção ao detalhe e beleza são impressionantes- sem contar que permanecem firmes e fortes até os dias de hoje. Grande parte das tumbas são datadas do século VI antes de Cristo.
Como as tumbas são localizadas distantes uma das outras, nosso grupo era levado de ônibus de um lugar ao outro – evitando assim andar no calor do deserto. Surpreendentemente, o tempo por lá não estava tão quente, mesmo em pleno mês de Maio (durante o dia sol com uma brisa deliciosa, e a noite chegou a fazer 18C – friozinho para uma Carioca). Os locais dizem que essa área é das mais frescas da região, devido sua proximidade do Mar Vermelho e geografia.
Mada’in Saleh – A terra “amaldiçoada”:
Apesar de Mada’in Saleh ser um lugar belíssimo, declarado patrimônio histórico da humanidade pela UNESCO, o local é considerado por muitos nativos como “amaldiçoado”. Muitos nunca visitaram (ou visitarão) o lugar, que é um verdadeiro tesouro da arqueologia mundial. Quando comentei com alguns conhecidos que estava indo de visita ao lugar, eles me diziam com bastante apreensão: “não vai naquele lugar não!” Passe longe daquela região”.
Isso porque a lenda, perpetuada no Alcorão, se refere a Saleh, que foi um profeta pré-islâmico. Mada’in Saleh significa a “Cidade de Saleh“. Os habitantes de Mada’in Saleh que se recusavam a acreditar em Deus, diz a lenda. Conta-se que o profeta Saleh tentou convencê-los do contrário, e perguntou o que eles precisavam para crer em Deus. Eles responderam que queriam testemunhar um milagre. Então, para provar a existência de Deus, ele trouxe um camelo branco gigante, e elaborou que se os habitantes daquela cidade permitissem que o camelo tivesse acesso a eles todos os dias, o mesmo lhes forneceria leite suficiente durante toda a eternidade. Como sempre existem aqueles que são “do contra”, contrariando as palavras do profeta Saleh, um grupo de residentes descrentes acabou por assassinar o camelo, e segundo a história relata, estes foram então punidos com raios vindos do céu. De dar arrepios …
Um dos muitos ensinamentos do Islã é que seus seguidores evitem estar presentes nesses ambientes, simplesmente porque a ira de Deus já havia caído ali em algum momento – e vai que cai denovo. Ao mesmo tempo, o Alcorão também apontou as lições a serem aprendidas com esses eventos históricos. Esses sítios arqueológicos, em seus tempos de glória eram habitados pela alta sociedade predominante na época, e definitivamente nos levam a refletir sobre a natureza “temporária” deste mundo em que vivemos. Além disso, o fato de que o materialismo (que tende a nos preocupar tão imensamente no dia-a-dia), não tem importância no final das contas.
Hijaz Rainway – A Estação de Trem Ottoman
A história desta ferrovia é muito interessante.
Por volta de 1900, o Sultan Abdul Hamid da Turquia – o último Califa, estava preocupado com os rumores de descontentamento da população árabe, e assim iniciou um plano para reforçar sua soberania Otomana nas Arábias.
Com o objetivo declarado de transportar os peregrinos durante todo o caminho desde Damasco até as cidades sagradas de Meca e Medina, ele iniciou a construção de uma estrada de ferro que também serviria para fornecer os meios de mover suas tropas turcas com mais facilidade para o coração da Arábia Saudita.
As tribos árabes por sua vez, não gostaram muito da idéia ofensiva. A ferrovia foi construída sob supervisão alemã, por isso haviam muitos engenheiros e operários cristãos. Os beduínos viram isso como uma intrusão infiel a pura terra, berço do Islã. Vale lembrar que muitas das tribos de Beduínos na época, ganhavam a vida cobrando “pedágio” por assim dizer, saqueando caravanas de mercantes trazendo especiarias por essa rota, e a ferrovia tornaria esses ataques muito menos praticáveis. Sendo assim, durante todo o período de construção da ferrovia, esta esteve sob forte e constante opressão pelos beduínos da região, que apesar de pouco sofisticados, eram insistentes e estavam armados.
No início da primeira Guerra Mundial, a Turquia que aliou-se contra a Inglaterra e França, e quando a revolta árabe contra os turcos começou, os britânicos que nao brincam em serviço, trataram de enviar oficiais para ajudar os árabes a recuperar a geograficamente importante Arábia Saudita. Uma das maneiras mais eficazes de fazer isso era bombardeando pontos estratégicos da ferrovia. A estrada de ferro não foi completamente destruída, mas foi suficiente para encurralar muitos soldados turcos relativamente indefesos e ora despreparados. Depois da guerra, a ferrovia passou a operar regularmente, mas a falta de manutenção aliada a degradação causadoa por constantes tempestades de areia, a tornou cada vez menos funcional – até finalmente sucumbir-se as novas estradas e o advento das viagens aéreas. Hoje o que resta dela é somente história contada por esse museu, que é surpreendentemente bem estruturado e cuidado – e sem dúvidas vale a pena visitar.
Um Jantar típico Árabe na Vila Antiga
Depois de visitar mais tumbas do que eu esperava visitar :) nosso guia sorridente nos levou para um jantar típico na antiga vila milenar de Al-Ula. Conhecida localmente como Al-Deerah, ou simplesmente como “cidade antiga”. A vila que historiadores dizem ter mais de 2,000 anos e de pé até os dias de hoje, nos dá a oportunidade de observar diversas características das antigas construções árabes. Uma curiosidade é que o último morador da vila, que hoje está inativa, mudou-se de lá somente há 30 anos atrás. Eita apego hein!
Chegando na vila, o local estava cuidadosamente preparado no mais completo estilo mil e uma noites: tapetes árabes pelo chão, buffet com comidas típicas, luz de lamparinas… um céu estrelado maravilhoso sobre nós, e a vila milenar como cenário de pano de fundo. Foi sem dúvidas uma noite muito especial que nos fez voltar no tempo.
O terceiro post da série vem ai! Nele contarei como foi o nosso passeio pelas montanhas dançantes de Al Ragassat, a nossa visita à cidade antiga de Decan e o almoço na fazenda de tâmaras. Te espero no próximo post.
Carioca Travelando checking out e até lá :)
By Carla F.
Fotos by Vidal. F
claudia says
Olá bom dia, Estou fazendo um trabalho de escola e não consegui achar algumas informações, você poderia me ajudar? Tenho que responder algumas perguntas
Obrigada.
Carol says
Amei a reportagem!! Super ansiosa pela terceira parte :)
Franca says
Que riqueza de detalhes na explicacao… Parabens!!!! Estou impressionada :D
Bjs
Eder Rezende says
Já fui a Petra mas nunca tinha pesnado em ir a Arabia Saudita
gostei
Eder
Carioca Travelando says
Que bom Eder! Muito obrigada pela sua visita :)